quarta-feira, 17 de julho de 2013

SOBRE OS FANTASMAS E DEMONIOS DE SÃO MIGUEL


Nunca foi segredo pra ninguém minha paixão pelas histórias de terror. Meus primeiros terrores vieram de histórias contadas pelos nordestinos que frequentavam minha casa quando eu era criança e ficava entre os adultos. Um terror primitivo: lobisomens que invadiam casas, fantasmas que voltavam para proteção ou por vingança – um universo de medos impressionantes. Eu mesmo juro que vi o diabo naquela noite em que eu tinha seis anos, quando ele puxou minhas cobertas e desapareceu antes de me tocar, assim que eu fechei os olhos.

Mas, antes que eu percebesse, novos medos foram trazidos pela televisão; na antiga Record, que me premiava toda a sexta com um filme de terror, sua maioria da Hammer, com Christopher Lee eternizando Drácula no meu coração. Amo este medo até hoje!

E não demorou muito então:aos dez anos, a biblioteca Raimundo de Menezes me trouxe terrores diferenciados e refinados em forma de livros de Kafka, Stoker, Shelley, King, Stenvenson... O saudoso diretor emestreAtílio Garret me apresentou Edgar Allan Poe e, por fim, retornei às lendas e mitos do folclore brasileiro que, na verdade, foi o inicio de tudo e é abordado neste novo trabalho.

Há três lugares em São Miguel que sempre me impressionaram: a capela dos índios, o terreno do antigo cemitério da Nordestina e o cemitério da Saudade.

A capela dos índios, construída em 1622, uma das mais antigas do Brasil, antes dessa reforma e aprisionamento, vivia aberta ao público, abandonada em sépia na praça do Forró, que alguns teimam em chamar de Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, não se sabe porquê. Perdi a conta de quantas fezes entrei nela desde a infância. Abandonada, iluminada pelo sol ou pela chuva, ela parecia congelada no tempo, um fantasma que se deteriora aos poucos, teimando ir para o além. Não havia como não gravá-la na memória. Quando li em uma HQ do Capitão Mistério a adaptação de “A conversão do Diabo”, de Leonidas Andreiev, lá por volta dos meus 09 anos, eu não tinha cenário melhor para o conto. Aliás, não tenho até hoje.  

         O antigo cemitério da Nordestina, entre as décadas de 80 e 90, ainda possuía escombros de túmulos e ossos espalhados pelo chão. O tom de cruzes azuis e pedaços de caixão apodrecido eram reconhecidos com facilidade.

         Eu e meus colegas mais destemidos visitávamos o Cemitério da Saudade. Era uma grande valentia cruzar os corredores lendo nomes em lapides – uma vez encontrei um com o nome de minha mãe. Foi assustador!

         Em “Demônios e Fantasmas de São Miguel”, eu trago a tona alguns destes seres que povoam o bairro e que a tecnologia e a luz elétrica não podem apagar. Juntei às minhas memórias uma pequena recordação de Mariana Santana (jovem atriz do Alucinógeno Dramático, que atuou em Dom Casmurro, Fausto de Rua e A Pata do Macaco) escrita por ela mesma, fechando este volume, que não visa revolucionar e nem trazer nada de novo. Pelo contrário: é um resgate inicial de uma pureza que se perde em meio à tecnologia e enlatados artificiais. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.

         Leia na cama, antes de seu adormecer.
Boa leitura.
São Paulo, 19 de Abril de 2013.
23h45


LIVRETO "FANSTAMAS E DEMONIOS DE SÃO MIGUEL" SERÁ LANÇADO DIA 20 DE JULHO NA CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL

"Fantasmas e Demônios de São Miguel", o novo livret o de Claudemir Darkney Santos, será lançado sábado, 20 deJulho, no ARTE CANAL  que acontecera na CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL (Rua Julião Pereira Machado, 07 - São Miguel, zona leste de São Paulo). Além do lançamento, o evento também contará com o show NOVO TESTAMENTO, do grupo G.R.A.Ve. e com uma apresentação especial do multi artista IVAN NERIS. O evento começa as 20h30.


ENTRADA FRANCA

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